Prédio histórico que foi convento e casa de rainha é restaurado e vira centro cultural

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Prédio histórico que foi convento e casa de rainha é restaurado e vira centro cultural

Após quatro anos de obras, que permitiram desenterrar achados arqueológicos, espaço na Praça Quinze será reinaugurado nesta quinta-feira


PORTO VELHO, RO - Situado na Praça Quinze, o prédio de três andares do antigo Convento do Carmo, construído no fim do século XVI, viu a cidade do Rio crescer no seu entorno. E ganhou fama, com a chegada ao Brasil de D. João VI e sua mãe, a rainha de Portugal, D. Maria I. Em 1808, ele deixou de ser usado pelos carmelitas, passando a ser ocupado pela nobre até sua morte, em 1816, enquanto o vizinho Paço Imperial serviu de moradia para o Príncipe Regente. Após quatro anos de obras, que desenterraram dezenas de achados arqueológicos, símbolos da passagem da família real portuguesa pelo local, a reforma e os serviços de restauração foram concluídos. O espaço será reinaugurado nesta quinta-feira, pelo governador Cláudio Castro e pelo procurador-geral do estado, Bruno Dubeux, e transformado num centro cultural.



Vestígios do passado: peças e fragmentos de louças encontrados durante a recuperação do Convento do Carmo Foto: Claunir Tavares/Divulgação / Claunir Tavares/Divulgação

— Estamos devolvendo à população o Convento do Carmo. Reinaugurar esse importante patrimônio histórico e cultural do Rio de Janeiro, com suas características arquitetônicas totalmente recuperadas, é uma grande alegria — comemora Castro.

O público terá que esperar um pouquinho para visitar o convento e seus tesouros. Está prevista para maio a primeira mostra de artes plásticas de artistas brasileiros no lugar, que ganhou biblioteca, salão de exposições e um bistrô. Já as dezenas de peças encontradas — como louças francesas e inglesas, garrafas de vinho, talheres de prata, moedas, pentes, cachimbos e muitos fragmentos de cerâmica — farão parte de uma exposição permanente, com estreia prevista para este semestre.


Cultura e educação no mesmo espaço

Há décadas abandonado, o convento foi retomado judicialmente, em 2017, pela Procuradoria-Geral do Estado (PGE), que financiou as obras de R$ 30 milhões. Além da destinação cultural, o lugar vai abrigar as salas de aula da Escola Superior de Advocacia Pública (Esap) e o Centro de Estudos Jurídicos (Cejur).

— Não poderíamos deixar esse patrimônio cultural da cidade ser destruído e sucateado. A PGE agiu no interesse da sociedade, e a ela devolve, agora, esse monumento da história. A conclusão da obra de restauração e a abertura do antigo Convento do Carmo simbolizam o renascimento do Centro da Cidade no pós-pandemia — ressalta Bruno Dubeux.

A construção é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e as obras buscaram restaurar o estilo original da arquitetura e revelar vestígios da passagem da família real portuguesa pelo Brasil.

— O principal foco do projeto foi a restauração de esquadrias, pisos, forros, cantarias e pinturas, bem como a recuperação da identidade arquitetônica do prédio, que sofreu grandes modificações ao longo do tempo. Esse desafio veio junto com o objetivo de permitir um novo uso da edificação, trazendo novas soluções de acessibilidade, conforto ambiental, acústico e de instalações prediais, que possibilitaram agregar um projeto contemporâneo sem perder de vista as características históricas — explica Patricia Gullo, gerente de Arquitetura, Projetos e Obras da PGE.


Relíquias descobertas

Assim é que, no térreo, os arcos que enfeitam grandes salões tiveram suas estruturas de tijolinhos expostas com a remoção da argamassa que encobria a construção original. No primeiro andar, onde ficavam os aposentos de D. Maria I, foram restaurados o piso com tábuas de pinho de riga trazidos em navios da Europa, a cor das paredes, as pinturas que adornam o ambiente e o forro do teto.


Térreo do Convento do Carmo: arcos restaurados Foto: Claunir Tavares/Divulgação / Claunir Tavares/Divulgação


Também no primeiro andar, o trabalho deixou à mostra uma parede com vigas de madeira entrelaçadas e pedras. O serviço de restauro permitiu descobriu ainda uma pintura na parede imitando uma divisória em madeira, que estava coberta por várias camadas de tinta. No mesmo andar, o visitante também vai encontrar amostras de paredes de pedra coladas com óleo de baleia.

E foram as escavações feitas no prédio para a instalação de novos sistemas de água e esgoto que desenterraram dezenas de achados arqueológicos.

— O interessante nesse sítio é que ele nos remete a um universo que não tem apenas a realeza e os escravos, mas uma massa de pessoas de outras classes que conviveram nesse espaço, e deixando igualmente seus remanescentes — destaca a arqueóloga Jeane Cordeiro, que coordenou o trabalho das escavações.

Ao longo dos séculos XIX e XX, o imóvel teve diversos usos. Foi sede de instituições como o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, a Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas do Rio de Janeiro e parte da Universidade Cândido Mendes. Em 1950, sob risco de demolição, iniciou-se o processo de tombamento federal do prédio , concluído em 1964. O tombamento estadual viria em 2008, abrangendo todo o complexo formado pelos três blocos e pelo pátio.


Fonte: O Globo

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