Em média, país segue somando 100 mil mortos pela doença a cada três meses, assim como no começo da crise
Vilhena, RO - Um milhão de pessoas já morreram por Covid nos Estados Unidos desde o começo da crise, anunciou a Casa Branca nesta quinta-feira (12). Diante de um cenário em que as medidas contra a doença têm cada vez menos espaço na rotina do país, as mortes seguem um ritmo que lembra o do início da pandemia.
Entre fevereiro e maio, 100 mil americanos morreram em decorrência da doença. O dado é deste ano, mas poderia ser de 2020: são 100 mil vidas perdidas pela doença a cada três meses nos EUA, em média. Trata-se do país com o maior número de óbitos registrados devido à Covid em todo o mundo. O Brasil vem em segundo lugar nesse ranking, com 664 mil vítimas, seguido pela Índia, com 524 mil.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) contabiliza um total de 5,4 milhões de mortes por Covid-19 em dois anos. No entanto, a entidade pondera que o número pode ser maior, em razão da subnotificação, e estima algo entre 13 milhões e 17 milhões de óbitos provocados pelo vírus.
A marca de 1 milhão foi divulgada pelo governo americano numa declaração na qual o presidente Joe Biden disse lamentar as perdas. "Um milhão de cadeiras vazias na mesa de jantar. Cada uma delas é uma perda irreparável. Jill e eu estamos orando por cada uma delas", disse o democrata no comunicado.
Da marca atual, cerca de 600 mil ocorreram durante o mandato de Biden, que fez campanha eleitoral prometendo vencer a Covid. O presidente sempre estimulou a vacinação, mas não conseguiu convencer todos os americanos: apesar da ampla oferta de imunizantes, apenas 66% da população está plenamente protegida. Cerca de 100 milhões de habitantes não atenderam ao chamado.
A aplicação dos fármacos, iniciada no final de 2020, ajudou a refrear a onda de mortes ao longo do ano passado, mas elas seguem ocorrendo, especialmente entre não vacinados. De acordo com dados do CDC (Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos EUA, na sigla em inglês), os casos de mortes por Covid em 2021 foram dez vezes maiores entre a fatia da população que evitou as injeções.
Em 2021, Biden defendeu exigir a vacinação de funcionários públicos e de empresas privadas, mas a medida foi barrada na Justiça. Depois, o democrata foi deixando aos poucos os apelos pela imunização, ao mesmo tempo em que passou a argumentar com mais ênfase pela retomada da vida normal no país.
"É hora de voltar ao trabalho e encher nossos grandes centros de novo. Nossas crianças precisam estar na escola", disse ele, no discurso do Estado da União, em março. "A Covid já não controla nossas vidas."
Os Estados Unidos vivem seu momento mais próximo da volta à normalidade desde o começo da crise. O uso de máscaras é opcional em quase todas as situações, não há restrições de aglomeração e diversas instituições que mantinham atividades remotas estão voltando a fazer encontros presenciais.
"Este é nosso primeiro evento presencial em dois anos" foi uma frase comum nas últimas semanas, como num debate no Center for American Progress e no jantar de Correspondentes da Casa Branca.
No começo de 2022, uma alta de casos levou algumas cidades a adotar restrições, mas em menor escala, como a exigência de comprovante de vacinação para acessar lugares públicos. As medidas, no entanto, foram abandonadas após poucas semanas.
A obrigatoriedade do uso de proteção facial foi descartada mesmo em cidades nas quais os cuidados eram maiores, como Nova York e Washington —uma regra federal que exigia a utilização de máscaras em transportes públicos deixou de valer em 18 de abril, após ser derrubada pela Justiça. Apesar disso, o CDC segue recomendando o item em lugares fechados.
Nesta época do ano, em que o calor volta ao país, há vários eventos que geram aglomerações, como finais de torneios esportivos, festivais de música e feiras de rua. Junto com a reabertura, há também muitos registros de contágios. O país vive uma nova alta de infecções, com média de 84 mil por dia. A cifra é 58% maior do que há duas semanas, mas ainda distante do pico de 800 mil diagnósticos por dia, em janeiro.
Os casos atingiram inclusive autoridades. Nas últimas semanas, a vice Kamala Harris, a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, e o secretário de Estado, Antony Blinken, tiveram Covid, mas sem complicações.
A expectativa do governo e de especialistas é a de que a doença volte a fazer vítimas em maior número no final do ano —os piores momentos da Covid ocorreram no inverno. Entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021, houve 100 mil mortes em 35 dias. No inverno 2021-2022, a cifra foi alcançada em 53 dias.
A Casa Branca projeta que poderá haver mais 100 milhões de casos com a chegada do outono e do inverno no Hemisfério Norte. De novo, novas variantes, mais aptas a driblar a imunidade gerada pelas vacinas, deve provocar uma nova alta de casos, segundo um funcionário do governo a jornalistas.
Logo nos primeiros dias após tomar posse da Presidência, o democrata Joe Biden assinou uma série de decretos para desfazer políticas institu Mandel Ngan - 28.jan.21 /AFPMAIS
A atual gestão americana fez o alerta porque busca convencer o Congresso a aprovar mais recursos para combater a Covid. A proposta atual, de US$ 10 bilhões, bem inferior aos US$ 22,5 bilhões pedidos antes, está parada porque a oposição quere atrelar a aprovação a um endurecimento das regras de imigração.
Sem o aporte, pode faltar dinheiro para comprar testes, remédios e vacinas, que são fornecidos de forma gratuita aos americanos, em um país que não possui sistema público de saúde. Autoridades também estimam que será necessária uma nova dose de imunizantes no final do ano.
Nesta quinta, Biden participou de uma cúpula sobre Covid e anunciou que seu governo compartilhará dados sobre a produção de vacinas. "Vamos disponibilizar tecnologias de saúde de posse dos EUA, incluindo a estabilização da proteína spike usada em muitos imunizantes", disse o presidente, na abertura do evento.
O encontro reuniu 15 países, como Alemanha, África do Sul, Índia e Colômbia, órgãos internacionais e empresas. O Brasil não foi citado entre os participantes, assim como China e Rússia. Os integrantes anunciaram acordos que devem gerar mais de US$ 3 bilhões em novos recursos no combate à Covid.
As conversas foram virtuais, como era o padrão em 2020.
Fonte: Folha de São Paulo
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