PORTO VELHO, RO - Começamos a semana com mais um episódio de atrocidades contra as mulheres. Todos os dias atos cada vez mais perversos vêm à tona e nos fazem pensar na falta de respeito que nos cerca, e que não existe um lugar onde podemos nos sentir seguras.
É lamentável, mas dessa vez a notícia de que um médico anestesista foi preso depois de abusar de uma mulher que estava dopada durante o trabalho de parto, desperta a sensação de impossibilidade de sermos respeitadas até mesmo na hora do nascimento de um filho.
Já bastam os perigos nas ruas, no ônibus, no trabalho, em casa, e agora a prova que estamos desprotegidas até na sala de cirurgia, com uma equipe médica. É a prova de que mesmo durante um dos momentos mais especiais da vida de uma mulher, quando ela está para trazer ao mundo uma nova vida, um homem é capaz de aproveitar da sua vulnerabilidade, a um metro de distância de toda a equipe para estuprá-la e transformar o momento mágico, em um pesadelo nojento.
Sempre que vejo esse tipo de notícia penso que o caso só foi descoberto porque foi gravado e imagino aquilo que não foi filmado. Quantas vezes ele estuprou suas pacientes até ser um suspeito entre a equipe? Quantas mulheres já foram estupradas durante uma sala de cirurgia e não sabem? Quantas sabem e ainda não tiveram coragem de denunciar?
O absurdo continua quando o estuprador ganha milhares de seguidores depois que foi exposto na internet. Não faz sentido um estuprador ganhar seguidores. Me faz pensar que os novos seguidores também apoiam sexo sem consentimento e que a atrocidade sem fundamento tem muito mais adeptos do que imaginamos.
Nunca foi a roupa que usamos, nem os lugares que frequentamos é a cultura do estupro encalacrada no país. Em 2021, o Brasil registrou um estupro a cada 10 minutos, segundo dados do levantamento de Segurança Pública (FBSP). Foram 56 mil estupros incluindo de vulneráveis e do gênero feminino. Entre 2015 e 2021 foram registrados 177 casos de estupro em “hospital, clínicas ou similares”, segundo o número do Instituto de segurança Pública (ISP). Isso é o que foi registrado, imagina o que não foi denunciado e nem levantado?
A denúncia desse caso aconteceu graças à união de mulheres que desconfiaram e se arriscaram para conseguir filmar e provar que existia um comportamento inadequado. Já que sem provas seriam apenas as palvras delas contra a de um homem ainda por cima médico e respeitado por todos. Todo meu apoio e admiração vai para a coragem delas.
Quanto à delegada do caso que realizou a prisão em flagrante e está sendo julgada pelo comportamento educado, fica a minha solidariedade. Nenhuma mulher está preparada para ficar de frente com um estuprador em série, todas nós temos o medo embutido do estupro. Independente da posição social o medo do estupro é recorrente e agora ele cresceu para as salas de cirurgias mesmo com uma equipe médica do lado.
Está claro de que não estamos protegidas em lugar nenhum. Apenas a nossa união é capaz de combater e denunciar atos tão repugnantes e dar um basta na falta de respeito que nos oferecem nesse mundo doente.
Fonte: Diário da Amazônia
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