Grupo de funcionários reclama de salários baixos e condições de trabalho ruins
Porto Velho, RO - Um grupo de trabalhadores terceirizados encarregados de treinar o novo chatbot de inteligência artificial (IA) do Google disse que foram demitidos por se manifestar sobre baixos salários e prazos irracionais - eles acreditam que isso os tornou incapazes de realizar adequadamente seus trabalhos e garantir que o bot não cause danos.
Em uma queixa apresentada ao Conselho Nacional de Relações Trabalhistas (NLRB, na sigla em inglês), seis profissionais afirmam que foram demitidos ilegalmente da Appen, empresa que fornece dezenas de milhares de trabalhadores terceirizados para grandes companhias de tecnologia.
Os trabalhadores dizem que passaram quase um ano pressionando por melhores salários e condições de trabalho, e foram então demitidos duas semanas depois que um de seus líderes enviou uma carta ao Congresso dizendo que sua situação poderia levar o chatbot do Google, conhecido como Bard, a agir perigosamente.
Os trabalhadores que avaliam os chatbots “muitas vezes não têm tempo suficiente para avaliar respostas mais longas”, escreveu Ed Stackhouse, 49, em uma carta de 15 de maio para dois senadores que lideram uma audiência congressista sobre os riscos da IA. “O fato de os avaliadores serem tão explorados pode levar a um produto defeituoso e, em última análise, mais perigoso”.
A Appen disse aos trabalhadores que eles foram demitidos por causa das “condições de negócios”, disse Stackhouse. A Appen não respondeu aos pedidos de comentário.
Bard é o chatbot do Google concorrente o ChatGPT Foto: Shannon Stapleton/File Photo/Reuters
“A Appen é responsável pelas condições de trabalho de seus funcionários, incluindo salário, benefícios, mudanças de emprego e as tarefas que lhes são atribuídas”, disse a porta-voz do Google, Courtenay Mencini. “Nós respeitamos o direito desses trabalhadores de se sindicalizarem ou de participarem de atividades de organização, mas é uma questão entre os trabalhadores e o empregador deles, a Appen”.
Com a carta ao Congresso, os trabalhadores se juntaram a um crescente coro de vozes preocupadas com a rápida implementação de ferramentas de IA para milhões de pessoas. Pesquisadores de IA, políticos e ativistas levantaram preocupações de que a tecnologia está inserindo viés em produtos de tecnologia, permitindo cibercrime e substituindo alguns trabalhadores - para eles, a tecnologia pode até sair do controle humano. O que inicialmente era uma luta para garantir melhores condições de trabalho se tornou algo maior - o impacto da IA na sociedade, diz Stackhouse.
Importância humana
Uma explosão de interesse em IA por parte de empresas e consumidores desencadeou uma corrida entre o Google e a Microsoft para desenvolver e vender ferramentas de IA. O boom foi desencadeado pela OpenAI, que lançou seu chatbot ChatGPT em novembro. Especialistas atribuem parte do sucesso da OpenAI a testadores e treinadores humanos para refinar o bot e ensiná-lo a ser menos ofensivo e mais interessante.
O ritmo acelerado e a natureza competitiva do boom da IA estão causando preocupação entre especialistas em ética da IA, que dizem que a tecnologia reflete os preconceitos racistas e sexistas que existem nos montes de dados sugados da internet e usados para treiná-los. Além disso, os chatbots costumam inventar informações falsas e as apresentar como reais.
Para combater esses efeitos, o Google e outras grandes empresas de tecnologia recorreram a terceirizados. Contratados da Appen, como Stackhouse, por exemplo, têm ajudado a melhorar o a ferramenta de busca do Google ao avaliar seus resultados de pesquisa.
Mesmo antes de lançar o Bard, o Google se apoiou nesses trabalhadores terceirizados. Os contratados da Appen dizem que o Google começou a transferir seu trabalho para o Bard em fevereiro.
“Isso pareceu muito dramático”, disse Michelle Curtis, 43, outra demitida da Appen. Os avaliadores têm um limite de tempo para realizar tarefas, diz ela - com o Bard, isso poderia significar que eles tinham cinco minutos, por exemplo, para avaliar uma resposta detalhada sobre as origens da Guerra Civil americana. “Simplesmente não há como fazer isso”, afirma.
Curtis e Stackhouse fazem parte de um grupo de trabalhadores da Appen que vinham tentando organizar seus colegas para exigir melhores salários e benefícios, com a ajuda do Alphabet Workers Union, um grupo de funcionário sindicalizados do Google.
Em 2019, o Google disse que começaria a exigir que as firmas terceirizadas pagassem aos funcionários US$ 15 por hora. Stackhouse e Michelle afirmam que a Appen nunca atingiu essa marca. Segundo eles, a empresa concordou em aumentar os salários para US$ 14,50 por hora, mas se recusou a conceder aos funcionários horas suficientes para se qualificarem para os benefícios.
Com a queixa, os trabalhadores estão intensificando a luta, chamando mais atenção para a realidade do trabalho mal remunerado por trás de IA de ponta. O processo dos demitidos da Appen pode levar meses, já que o NLRB lida com uma grande quantidade de casos. Porém, eles esperam recuperar seus empregos, garantir pagamento retroativo e, talvez, fazer o Google sentar-se com eles e ouvir suas preocupações sobre a IA.
Fonte: Estadão
Porto Velho, RO - Um grupo de trabalhadores terceirizados encarregados de treinar o novo chatbot de inteligência artificial (IA) do Google disse que foram demitidos por se manifestar sobre baixos salários e prazos irracionais - eles acreditam que isso os tornou incapazes de realizar adequadamente seus trabalhos e garantir que o bot não cause danos.
Em uma queixa apresentada ao Conselho Nacional de Relações Trabalhistas (NLRB, na sigla em inglês), seis profissionais afirmam que foram demitidos ilegalmente da Appen, empresa que fornece dezenas de milhares de trabalhadores terceirizados para grandes companhias de tecnologia.
Os trabalhadores dizem que passaram quase um ano pressionando por melhores salários e condições de trabalho, e foram então demitidos duas semanas depois que um de seus líderes enviou uma carta ao Congresso dizendo que sua situação poderia levar o chatbot do Google, conhecido como Bard, a agir perigosamente.
Os trabalhadores que avaliam os chatbots “muitas vezes não têm tempo suficiente para avaliar respostas mais longas”, escreveu Ed Stackhouse, 49, em uma carta de 15 de maio para dois senadores que lideram uma audiência congressista sobre os riscos da IA. “O fato de os avaliadores serem tão explorados pode levar a um produto defeituoso e, em última análise, mais perigoso”.
A Appen disse aos trabalhadores que eles foram demitidos por causa das “condições de negócios”, disse Stackhouse. A Appen não respondeu aos pedidos de comentário.
Bard é o chatbot do Google concorrente o ChatGPT Foto: Shannon Stapleton/File Photo/Reuters
“A Appen é responsável pelas condições de trabalho de seus funcionários, incluindo salário, benefícios, mudanças de emprego e as tarefas que lhes são atribuídas”, disse a porta-voz do Google, Courtenay Mencini. “Nós respeitamos o direito desses trabalhadores de se sindicalizarem ou de participarem de atividades de organização, mas é uma questão entre os trabalhadores e o empregador deles, a Appen”.
Com a carta ao Congresso, os trabalhadores se juntaram a um crescente coro de vozes preocupadas com a rápida implementação de ferramentas de IA para milhões de pessoas. Pesquisadores de IA, políticos e ativistas levantaram preocupações de que a tecnologia está inserindo viés em produtos de tecnologia, permitindo cibercrime e substituindo alguns trabalhadores - para eles, a tecnologia pode até sair do controle humano. O que inicialmente era uma luta para garantir melhores condições de trabalho se tornou algo maior - o impacto da IA na sociedade, diz Stackhouse.
Importância humana
Uma explosão de interesse em IA por parte de empresas e consumidores desencadeou uma corrida entre o Google e a Microsoft para desenvolver e vender ferramentas de IA. O boom foi desencadeado pela OpenAI, que lançou seu chatbot ChatGPT em novembro. Especialistas atribuem parte do sucesso da OpenAI a testadores e treinadores humanos para refinar o bot e ensiná-lo a ser menos ofensivo e mais interessante.
O ritmo acelerado e a natureza competitiva do boom da IA estão causando preocupação entre especialistas em ética da IA, que dizem que a tecnologia reflete os preconceitos racistas e sexistas que existem nos montes de dados sugados da internet e usados para treiná-los. Além disso, os chatbots costumam inventar informações falsas e as apresentar como reais.
Para combater esses efeitos, o Google e outras grandes empresas de tecnologia recorreram a terceirizados. Contratados da Appen, como Stackhouse, por exemplo, têm ajudado a melhorar o a ferramenta de busca do Google ao avaliar seus resultados de pesquisa.
Mesmo antes de lançar o Bard, o Google se apoiou nesses trabalhadores terceirizados. Os contratados da Appen dizem que o Google começou a transferir seu trabalho para o Bard em fevereiro.
“Isso pareceu muito dramático”, disse Michelle Curtis, 43, outra demitida da Appen. Os avaliadores têm um limite de tempo para realizar tarefas, diz ela - com o Bard, isso poderia significar que eles tinham cinco minutos, por exemplo, para avaliar uma resposta detalhada sobre as origens da Guerra Civil americana. “Simplesmente não há como fazer isso”, afirma.
Curtis e Stackhouse fazem parte de um grupo de trabalhadores da Appen que vinham tentando organizar seus colegas para exigir melhores salários e benefícios, com a ajuda do Alphabet Workers Union, um grupo de funcionário sindicalizados do Google.
Em 2019, o Google disse que começaria a exigir que as firmas terceirizadas pagassem aos funcionários US$ 15 por hora. Stackhouse e Michelle afirmam que a Appen nunca atingiu essa marca. Segundo eles, a empresa concordou em aumentar os salários para US$ 14,50 por hora, mas se recusou a conceder aos funcionários horas suficientes para se qualificarem para os benefícios.
Com a queixa, os trabalhadores estão intensificando a luta, chamando mais atenção para a realidade do trabalho mal remunerado por trás de IA de ponta. O processo dos demitidos da Appen pode levar meses, já que o NLRB lida com uma grande quantidade de casos. Porém, eles esperam recuperar seus empregos, garantir pagamento retroativo e, talvez, fazer o Google sentar-se com eles e ouvir suas preocupações sobre a IA.
Fonte: Estadão
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