Menores níveis já registrados foram constatados em cursos d'água da Amazônia ocidental; Solimões e Madeira começaram a recuperar volume
Porto Velho, RO - A seca extrema na Amazônia ocidental produziu níveis mínimos históricos em pontos dos rios Negro, Solimões, Amazonas e Madeira. É o que mostram dados compilados ou produzidos pelo Porto de Manaus, pelo SGB (Serviço Geológico do Brasil) e pela Defesa Civil do Amazonas.
Em Manaus, o rio Negro bateu o recorde negativo na última segunda-feira (16), quando a régua do Porto de Manaus registrou 13,59 m –a mínima era de 13,63 m, registrada em 24 de outubro de 2010.
O rio continuou descendo ao longo da semana, e chegou ao nível de 13,29 m nesta quinta (19). Em 120 anos de medição, nunca houve indicadores tão baixos quanto os registrados desde segunda.
Recordes históricos foram batidos em outros rios da bacia amazônica. Nesta quinta (19), o SGB informou que estações de medição registraram mínimas históricas em Manacapuru (AM), no baixo rio Solimões, e em Itacoatiara (AM), no rio Amazonas.
Homem caminha deixando pegadas em uma planície vasta de areia, como um deserto; bem ao fundo, há algumas árvoresHomem caminha deixando pegadas em uma planície vasta de areia, como um deserto; bem ao fundo, há algumas árvores
No Solimões, a cota foi de 3,61 m, conforme informação do SGB. A mínima registrada era de 3,92 m, em 26 de outubro de 2010. No Amazonas, a medição apontou 90 cm, segundo o SGB, ante um recorde negativo de 91 cm em 24 de outubro de 2010.
O rio Madeira também teve níveis mínimos históricos em Nova Olinda do Norte (AM) e Humaitá (AM), superando os piores indicadores de 1995 e 1969, respectivamente, conforme monitoramento feito pela Defesa Civil do Amazonas.
Em Porto Velho, a mínima histórica se deu em 8 de outubro, com 1,10 m, segundo informação do SGB. A mínima registrada era do ano anterior.
A queda expressiva no nível de água do rio chegou a paralisar por duas semanas a usina hidrelétrica Santo Antônio, em Rondônia, a quarta maior do país. Ela voltou a operar na última segunda.
O Madeira começou a subir após os indicadores históricos. Em Humaitá, essa subida foi de 30 cm em cinco dias. Em Porto Velho, a medição apontou 1,85 m nesta quinta.
A perspectiva é de uma subida mais lenta para os demais rios, mas isso já ocorre, como no caso do rio Solimões. Houve chuvas no Peru e o alto Solimões, em cidades como Tabatinga (AM) e Benjamin Constant (AM), é o primeiro a sentir elevação do nível, segundo o SGB.
Em Tabatinga, o rio subiu 24 cm em 24 h, segundo o boletim divulgado pelo SGB nesta quinta. Isso deve se espraiar pelo médio Solimões, onde estão Tefé (AM) e Fonte Boa (AM), até Manacapuru.
A estiagem severa é resultado de uma combinação de fenômenos, como o El Niño, que é um aquecimento acima da média no oceano Pacífico, perto da linha do Equador, e o aquecimento do Atlântico Tropical Norte.
As anomalias que o El Niño provoca na Amazônia, com menos chuvas, ainda prosseguirão na região. Já houve chuvas abaixo da média em períodos que já são pouco chuvosos. Agora, isso deve se repetir no período de chuvas na Amazônia.
A Folha mostrou numa série de reportagens as consequências da seca para comunidades ribeirinhas, territórios indígenas e cidades nos rios Solimões e Negro.
Igarapés desapareceram na região de Tefé, o que obriga famílias a buscarem água potável nas torneiras da cidade.
O rio Solimões virou deserto, com enormes bancos de areia, nas imediações das Terras Indígenas Porto Praia de Baixo e Boará/Boarazinho, também em Tefé. Indígenas ficaram isolados, e há comunidades com aumento expressivo de casos de diarreia, vômito, dor de estômago e febre em razão do consumo de água imprópria.
Botos vermelhos e tucuxis precisaram ser removidos de uma enseada que passou por um processo de superaquecimento, perto do porto de Tefé. Mais de 140 animais morreram em setembro.
Uma família de indígenas ticunas perdeu a casa após desmoronamento de um barranco na beira do Solimões, fenômeno conhecido como terra caída, que já arrastou vila, escola e porto durante esse período de seca extrema.
No arquipélago de Anavilhanas, no rio Negro, famílias inteiras precisaram se mudar para canoas, de forma a ficarem mais próximas de água. A comunidade de onde são está isolada, em razão da expansão de bancos de areia na região.
Fonte: Folha de São Paulo
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