Presidente afirma que população não vai querer mais ouvir quem 'não gosta de democracia'
Porto Velho, RO - O presidente Lula (PT) afirmou à Folha que rechaçou decretar a GLO (Garantia da Lei e da Ordem) durante os ataques aos prédios dos três Poderes, em 8 de janeiro de 2023, para não terceirizar aos militares o comando de uma crise que, segundo ele, deveria ser resolvida na política.
"Nas conversas que eu tive com o ministro Flávio Dino [da Justiça], e foram muitas conversas, dentre várias coisas que ele me falou, ele aventou que uma das possibilidades era fazer GLO. E eu disse ao ministro Flávio Dino que não teria GLO. Eu não faria GLO porque quem quiser o poder que dispute as eleições e ganhe, como eu ganhei as eleições", disse o presidente em declaração por vídeo à Folha.
"Por que eu, com oito dias de governo, iria dar para outras pessoas o poder de resolver uma crise que eu achava que tinha que resolver na política? E foi resolvida na política."
Segundo aliados, houve no governo quem defendesse o decreto de GLO para tentar dar fim às cenas de vandalismo em Brasília. A avaliação de autoridades naquele dia era que as forças de segurança do Distrito Federal, como a Polícia Militar, não estavam agindo para conter os manifestantes.
Havia ainda um clima de desconfiança muito grande em relação aos militares, devido à associação dos fardados com o governo Jair Bolsonaro (PL). No lugar da GLO, Lula optou por uma intervenção na segurança pública do Distrito Federal.
A decisão foi tomada em Araraquara, interior de São Paulo, para onde Lula havia ido visitar os estragos causados por chuvas no final do ano anterior.
Naquele dia, Lula culpou Bolsonaro pelos ataques e chamou os manifestantes de fascistas.
Em Araraquara, houve temor pela segurança do presidente. Segundo Lula, aliados queriam que ele não retornasse ao Distrito Federal.
"Tinha gente que não queria que eu viesse para Brasília, voltasse para São Paulo. Que ao invés de eu vir de Araraquara para cá, que eu ficasse lá e eu disse: não. Eu vou para Brasília, vou para o hotel e vou para o Palácio. Eu ganhei as eleições, eu tomei posse. O povo me deu o direito de ser presidente durante quatro anos. Eu não vou fugir à minha responsabilidade", disse o presidente.
Lula também afirmou à Folha que o ato que ele organizou no dia seguinte aos ataques serviu como uma "fotografia" para a população e que nunca mais vão querer ouvir quem "não gosta de democracia".
No dia 9 de janeiro, o presidente organizou um encontro no Palácio do Planalto com os chefes dos três Poderes e governadores ou representantes dos 26 estados e o Distrito Federal. De lá, todos fizeram uma caminhada até o STF (Supremo Tribunal Federal) para verificar os estragos dos ataques do dia anterior.
"O gesto de todo mundo se encontrar aqui no Palácio do Planalto e depois visitar a Suprema Corte foi um gesto muito forte, que eu acho que é a fotografia que o povo brasileiro vai se lembrar para sempre e nunca mais a gente vai querer dar ouvidos a pessoas que não gostam de democracia."
Para o presidente, o que aconteceu serviu para fortalecer a democracia brasileira para que nunca mais se pense em golpe.
"Eu acho que o que aconteceu pode ser um processo depurador, de quem vai fortalecer a democracia e de quem queria enfraquecer a democracia", disse Lula.
"Acho que nós poderemos, com o que aconteceu no dia 8 de janeiro, e com a resposta que nós demos e com a resposta que vamos dar [no próximo] dia 8, nós poderemos estar construindo a possibilidade desse país viver todo século 21 sem ter golpe de Estado."
O presidente se refere na declaração ao ato que está sendo organizado no Senado Federal na próxima segunda (8) e que terá a presença de chefes dos três Poderes, autoridades, movimentos de esquerda e integrantes da sociedade civil para marcar um ano dos ataques.
Fonte: Folha de São Paulo
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